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Metade é Niemeyer


          Nenhuma outra notícia foi tão comentada na Arquitetura quanto o acontecido. A verdade é que, mesmo que já fosse esperado, Oscar Niemeyer se foi, e deixou a todos nós abalados. Com ele se vai também toda a história da Arquitetura Moderna, sendo ele seu último representante vivo, o último contemporâneo de Lúcio Costa, Reidy, Burle Marx, Athos Bulcão, Le Corbusier, Mies van der Rohe, Gropius...





"O mais importante não é a Arquitetura, mas a Vida, os Amigos e este mundo injusto que devemos modificar".

         A frase acima, considerando suas variações, mostram um arquiteto já cansado de falar sobre sua arquitetura, cujo discurso repetiu por tantas décadas. Ao final de todas as entrevistas e relatos dos últimos anos, Oscar sempre afirmava seu amor pelas coisas simples e tão necessárias da vida: nossas relações. Por viver tanto tempo, ele deve ter visto todos seus amigos e familiares irem embora dessa vida, sem levar nenhum bem material, deixando apenas a lembrança da amizade e do amor.


         A arquitetura do Oscar não é para ser visitada em solidão, mas com entes queridos, se deixando envolver pela espacialidade única. No seu desejo de criar surpresa, o arquiteto carioca acaba por construir uma relação forte, um vínculo entre pessoa e edifício.
         Nós tivemos a oportunidade de visitar muitas de suas obras, e o sentimento de que falamos, esse vínculo, se faz presente na emoção da primeira visada: é amor à primeira vista. A arquitetura te choca, choca nossas idiossincrasias, nos faz rever tudo o que pensamos saber do edifício à nossa frente.
         Foi assim com o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, com o MAC de Niterói...e foi assim com a passarela do Memorial da América Latina, que comoveu um garoto de 10 anos de idade...






         Há apenas 10 dias de completar 105 anos, no dia de hoje, ele se foi. A reação e sentimentos foram fortes para todos os brasileiros, principalmente nós arquitetos e estudantes. Nós, como ninguém, sabemos quão difícil pode ser a profissão. Visitar as obras do Oscar, principalmente se for a primeira vez, torna-se sempre um momento especial, de deslumbramento e descobrimento. O que todos nós sentimos, e ainda vamos sentir, esse nó na garganta vendo-o agora falar em tantos vídeos documentando seus últimos anos, é uma relação especial entre a grande produção dele e nossas vidas. Que outro arquiteto ensinou e se fez presente na vida de uma nação como Niemeyer?


         Crianças de 4 anos de idade reconhecem seu traço. Os símbolos que criou, símbolos fechados, são impossíveis de relacionar à obra de outro arquiteto.








         Oscar, ao longo de 1 século, acertou, falhou e emocionou. Como é jovem nossa história! Como é recente nosso pensamento arquitetônico! Registramos arquitetura nas cidades do Brasil a apenas 200 anos...metade é Niemeyer.



Para sempre vai comover.


Todas as fotografias são dos autores. A primeira e última imagem são fotografias de imagens exibidas no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba.

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