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Residência em City Boaçava [MMBB]


         A maneira como o escritório MMBB lida com Arquitetura e Urbanismo ainda necessita de estudos à altura de seu conteúdo. As propostas revelam mais do que apenas aquilo que a crítica especializada insiste em discursar. Por debaixo da plástica do concreto armado e quatro apoios, se escondendo no âmago dos fortes conceitos, há uma postura de soluções projetuais capazes de ler espaço como infraestrutura.

         Nesta casa em City Boaçava, São Paulo, a equipe liderada por Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga resolve o programa com a mesma genialidade de seus projetos anteriores. Como o próprio ex-colega de escritório Angelo Bucci, costuma dizer: um projeto é sempre decorrente das experiências adquiridas com o anterior, não sendo possível que o projeto atual exista sem que o outro tivesse sido desenvolvido.
         Porém, diferente da Casa Mariante, por exemplo, essa residência não possuí os muros altos do condomínio fechado. Ela está inserida na própria malha urbana, negada hoje por alguns de seus cidadãos... nua, embasbacadamente transparente.


         Nem mesmo o portão que "separa" o público do privado está livre de transparência. Afinal, como mostra Mario Biselli em seu texto "A Cidade Contemporânea", de que adiantam pilotis, térreo livre e grandes panos de vidro se tudo isso fica isolado e escondido da cidade por muros e portões?*


         A solução para o terreno, com uma topografia singular, por seu perfil e curvas de nível, faz com que diferentes níveis aconteçam no térreo, criando a sombra do balanço da casa na garagem.


         As laterais do edifício, duas grandes vigas-parede se apoiam nos quatro pilares e travam a estrutura de concreto armado com as lajes transversais. As paredes laterais também abrigam as instalações de hidráulica e elétrica.
         A idéia de criar não apenas estrutura, mas uma infraestrutura que abraça o vazio, aparece aqui.

Entre a infraestrutura, se faz a arquitetura, ocupando o vazio parcialmente.

         No pavimento mais baixo ficam a garagem e área destinada a serviço. Ao chegar da rua, deve-se subir ou descer para acessar o interior da casa. Essa mudança de níveis talvez seja um dos pontos clichês do projeto. Por que DESCER para ir à área de serviço e SUBIR para ir ao restante da casa? Será pelo barulho e sujeira que garagem e serviço resultam? Ou será por antigos dogmas do status quo? Bem...difícil dizer que trata-se de uma solução que agrada os arquitetos, considerando que essa decisão pôde ter palavra final dos clientes.
         No volume que paira logo acima, no recheio da infraestrutura, estão a cozinha e living completamente revelados pela fachada de vidros sem caixilhos.


         No pavimento térreo, o vazio criado pelas vigas-parede extende-se para além da frente do lote em relação à rua. Da calçada é possível enxergar toda a extensão do terreno. A comum varanda é espaço ora definido pela laje superior, ora definido pelo pé direito infinito de um pátio.

Como mostram os cortes, a circulação principal da casa se dá em volta do pátio.


         É no entorno das escadas que se organiza o restante do programa. Os quartos são protegidos da luz e nudez do pavimento térreo por brises metálicos horizontais, que garantem a regulagem, tanto da claridade quanto da privacidade.

A transparência, porém, se mantém voltada para o interior.


         Nas plantas abaixo, é possível ver a flexibilidade de ambientes proposto pelos arquitetos no pavimento superior.

         A fachada que sempre é esquecida, aqui é utilizada. O terraço, coberto por um deck de madeira e um pequeno espelho d´água possibilitam uma vista diferente da cidade. Nesse lugar, o skyline, as luzes da cidade, e a caixa d´água estabelecem uma relação nem sempre presenciada tão de perto.


Vimos aqui.
*BISELLI, Mario. "A Cidade Contemporânea". Revista Monolito 3 (2011): 34-38.

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