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Quando Rem Koolhaas esteve em São Paulo [O Retorno]


         E eis que bem tardiamente divulgado (será proposital?), numa manhã fresca do dia 25 de agosto, quinta-feira, o arquiteto holandês Rem Koolhaas retorna a São Paulo depois de 12 anos.
         O motivo: divulgar as exposições que começarão a acontecer na Casa de Vidro, projeto de Lina Bo Bardi, a partir do ano que vem.
         Com curadoria do também holandês Hans Ulrich Obrist, a mostra pretende trazer diversos artistas de todo o mundo nesse novo ambiente de exposições, num edifício que tanto significa para nossa história recente da Arquitetura.
         Por meio de uma palestra que aconteceu no anfiteatro do SESC Pompéia, por volta do meio dia da quinta-feira, Hans Ulrich Obrist apresentou duas das personalidades a integrar as exposições na Casa de Vidro: a designer Petra Blaisse, que surpreendeu a platéia com seu senso de humor e trabalho maravilhoso (muita mais que digno de diversos posts no futuro), e o arquiteto e urbanista holandês Rem Koolhaas.
         A palestra de Koolhaas teve como foco sua vida e carreira, fazendo uma retrospectiva de seu trabalho no OMA e revelando suas recentes preocupações e idéias.
         Porém mais do que simplesmente mostrar projetos, ver e ouvi-lo falar de arquitetura é plantar sementes de dúvidas e inquietação em nossas mentes na medida em que ele questiona: qual é mesmo o papel de nossa profissão na sociedade contemporânea?!
         Passando por seu desejo em ser arquiteto (ou conforme ele mesmo disse “a brazilian architect”) quando viu uma foto da recém inaugurada Brasília, do período em que se denominou um “starving artist” no início de sua carreira, de Nova York Delirante, ao momento em que ganhou reconhecimento absoluto ao receber o Pritzker, e se tornar tudo aquilo que seu espírito inquieto não queria ser (um starchitect), Koolhaas apresenta gráficos e estatísticas que vão tomando por base os próprios períodos da economia mundial.
         Sensível a todos os detalhes que ajudam a ler nossa realidade, o arquiteto fala de uma saudade da época em que o arquiteto era apenas um nérd rabiscando uma planta assistido por um batalhão de trabalhadores da indústria da construção, em contraposição à imagem atual que a mídia dá a nossa profissão: um vendedor de sonhos montados como quebra-cabeças, como imagens agrupadas e tratadas no photoshop...um profissional que ganha cada vez mais atenção e que perde cada vez mais importância no exercício de sua profissão (ilustrado nos slides por uma conhecida figura das revistas de arquitetura).
         Por fim, Koolhaas fala de suas preocupações recentes, passando de seu foco nas metrópoles asiáticas, a preocupação com a questão da preservação e tombamento e o rápido esvaziamento de cidades e áreas do interior de países que se transformam em cidades fantasmas em apenas alguns anos.
         Quanto ao Brasil, embora tenha se esquivado um pouco das perguntas relacionadas à sua última passagem pelo país, por advento do Arte/Cidade, e de sua real participação e interesse nas futuras exposições da Casa de Vidro, com curadoria de seu conterrâneo Hans Ulrich Obrist, o arquiteto holandês parece retomar seu fascínio pela capital de nosso país, já que não apenas chegou de Brasília para a palestra como para lá retornou após essa.
         Rem Koolhaas não é assim tão contraditório como a mídia insiste em afirmar, como mostra seu desconforto ao final da palestra ao ser abordado por diversas pessoas querendo autógrafos e fotos. Será que o arquiteto tornou-se mesmo aquilo que critica?


         No mundo contemporâneo, nossa profissão, cada vez mais, tem como objeto final um edifício barato, isolado e racionalizado de maneira a ser construído rapidamente. Porém, esse mesmo edifício deve durar eternamente. O mundo contemporâneo que intriga Rem Koolhaas é, por natureza, contraditório.

Primeira foto, vimos aqui.
Segunda foto, tirada por Camila Stump e usada com permissão.
Para mais informações sobre o arquiteto holandês no Brasil, não deixe de ler nosso post do mês de abril: Quando Rem Koolhaas esteve em São Paulo

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