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Arquitetura estrangeira no Brasil

         Segue ainda o frisson e discussão ácida entre os profissionais de Arquitetura e Urbanismo brasileiros. Afinal, de que ponto de vista deve ser vista a contratação de escritórios estrangeiros para a elaboração de projetos importantes em nosso país?


         A polêmica ganhou mais fervor na última década, com obras como o Museu da Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre, do português Álvaro Siza, a Cidade da Música no Rio de Janeiro, do francês Christian de Portzamparc, e o projeto vencedor do concurso para o Museu da Imagem e do Som (MIS), também no Rio, dos norte-americanos Diller Scofidio + Renfro. Porém nenhum outro projeto talvez tenha causado mais discussão recente do que o Novo Centro de Dança de São Paulo.


         O projeto, parte de um plano maior de revitalização da região da Luz em São Paulo, ocupará o terreno pertencente ao edifício da antiga Rodoviária da cidade, que já foi demolido.
         O debate acalorado entre os arquitetos do país, se deu devido à maneira obscura que o Ministério da Cultura contratou o escritório de Arquitetura suíço Herzog & de Meuron para a realização do Centro de Dança.
         Por que não houve um concurso?
         O secretário da Cultura João Sayad à Revista AU (Dezembro de 2008):
         "Porque um teatro é uma obra significativa e na maioria dos exemplos que a gente conhece o arquiteto acaba comprometendo essas características".
         O secretário descartou o concurso por que: "A negociação do projeto vencedor seria muito difícil, justamente porque ele ganhou. Mesmo que seja possível, o vencedor tem uma força muito ativa que podia fazer com que o teatro perdesse em favor do arquiteto".
         Segundo Sayad, eliminando-se a idéia de concurso, sobra-se, até mesmo por questões legais, uma contratação por notável reputação. Dentre os arquitetos brasileiros, apenas dois poderiam ser contratados como arquitetos notáveis: Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha (os dois Pritzkers nacionais).
         "E eles já fizeram muito por aqui (São Paulo). Então, partimos para o estrangeiro, onde existem notáveis que não conhecíamos. É uma tarefa da Secretaria da Cultura trazer solistas estrangeiros, artistas estrangeiros. Por que não um arquiteto estrangeiro?".
         Dessa maneira, quatro escritórios de fora foram chamados para apresentar propostas de trabalho:
         > Pelli Clarke Pelli (Argentina)
         > Norman Foster (Inglaterra)
         > OMA/Rem Koolhaas (Holanda)
         > Herzog & de Meuron (Suíça)
         E assim escolheram o escritório que projetou o Ninho do Pássaro em Pequim para as Olimpíadas de 2008.
         "A capacidade de negociar nos pareceu a mais elevada entre os arquitetos".

         Em outra entrevista, dessa vez para o site Arcoweb, Sayad diz: "É difícil apontar um edifício e dizer com certeza que é de Herzog & De Meuron. Olhando com olhos de leigo, como são os meus, é possível perceber quais são de Koolhaas, quais são de Foster ou de Pelli, mas não quais são de Herzog & De Meuron. Principalmente porque eles investem muito na concepção do material, na fachada e na adaptabilidade do projeto ao local."
         Ele ainda complementa dizendo: "Queríamos provocar um escândalo na arquitetura brasileira. No bom sentido".

         Dito isso tudo, só temos a dizer que a proposta de Herzog & de Meuron (e aliás a de todos os outros arquitetos citados no início deste post) não poderia parecer mais contraditória. Por que se a Secretaria de Cultura queria um projeto de um escritório estrangeiro justamente para não parecer com nada daqui, não conseguiu o que queria. Todos os projetos, inclusive o Centro de Dança, tem extrema influência da Arquitetura que se faz aqui.
         Será que o que se faz aqui, é assim tão inferior se comparado ao que se produz lá fora?


Referências:
> Revista AU nº 177 - Dezembro de 2008

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